quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pentecostais e a Doutrina Wesleyana da Perfeição Cristã



                          


   A doutrina da perfeição cristã não é uma característica somente das igrejas de tradição wesleyana, como a Metodista, Metodista Livre, Igreja do Nazareno, Exército de Salvação, Igreja Holiness e outras. Esta doutrina teve guarida entre os pentecostais também. É um fato que, infelizmente, muitos irmãos pentecostais desconhecem.

     Os pais do pentecostalismo, Charles Fox Parham e William Seymour, eram de tradição wesleyana e criam na perfeição cristã (veja outros posts deste blog sobre esta doutrina), pois eram membros das igrejas do Movimento Wesleyano de Santidade que teve início em meados do século XIX. Infelizmente, embora os pais do pentecostalismo cressem nesta doutrina, a maior denominação pentecostal não só do Brasil, mas do mundo, Assembleia de Deus, não preservou a crença na perfeição cristã. Preferiram seguir a doutrina da obra consumada da graça (doutrina oposta a da perfeição cristã) de William Durham.

     A maior igreja pentecostal dos Estados Unidos, entretanto, é a Church of God in Christ (COGIC), ou seja, a Igreja de Deus em Cristo, que crê na perfeição cristã. Nos Estados Unidos a Assembly of God, que é a Assembleia de Deus, possui em torno de 3 milhões de membros, enquanto que a Igreja de Deus em Cristo possui em torno de 5 milhões de membros.

     Como os pentecostais wesleyanos (os que creem na doutrina da perfeição cristã) creem nesta doutrina?

     Os wesleyanos creem que depois da conversão, sendo logo, pouco tempo depois ou um tempo depois, aqueles que buscam a santidade e o viver santo seriam inteiramente santificados, sendo isto o alcance da perfeição cristã (enfatizo que não quer dizer que a pessoa torna-se impecável), a conhecida segunda obra da graça, obra esta depois da primeira obra da graça, que é a conversão. Já os pentecostais wesleyanos creem na terceira obra da graça, que é o batismo com/no Espírito Santo, que acontece depois da primeira (conversão) e segunda (inteira santificação) obras da graça.

     Graça e Paz


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Livros Sobre a Teologia de John Wesley

      Abaixo, indicamos livros sobre a teologia de John Wesley especificamente. Em inglês há vários livros sobre a teologia de Wesley. Infelizmente, há pouquíssimos disponíveis em português. Com a graça de Deus, esperamos que mude. Três livros são destacados abaixo. Posteriormente, a editora Sal Cultural publicará o livro Teologia de John Wesley de Mateo Lelievre e a Editeo publicará o livro Graça Responsiva - Teologia Pŕatica de John Wesley de Randy Maddox.

Teologia de John Wesley de Kenneth Collins pela CPAD

                                                   

      Este livro aborda muito detalhadamente os vários pontos da teologia de John Wesley. Sistematizações como cristologia, soteriologia, escatologia, eclesiologia e outros são abordados neste livro. Collins fez um trabalho minucioso sobre a teologia de Wesley.


A Nova Criação - A Teologia de John Wesley Hoje de Theodore Runyon pela Editeo

                                                  

      Tunyon aborda a teologia de Wesley de uma forma menos sistematizada como Collins, entretanto se atém mais profundamente com a relevância da contemporaneidade dos pensamentos de Wesley para os dias de hoje, O entendimento das divisões da imagem de Deus no ser humano e da graça divina são enfatizados neste livro.


Coletânea da Teologia de John Wesley de Robert Burtner e Robert Chiles pela Imprensa Metodista

                                                   

      Burtner e Chiles não se aprofundam comentando a teologia de Wesley. Nesta obra, eles praticamente transcrevem enxertos de escritos de Wesley sobre variados temas sistematizantes como Deus, Jesus, Espírito Santo, Salvação e outros. Entretanto, o livro vale a pena por apresentar Wesley falando por si mesmo. Este livro não é mais publicado, haja vista a editora, Imprensa Metodista, há anos que fechou as portas. Contudo, a Igreja Metodista em Vila Isabel disponibiliza o livro digitalizado gratuitamente.

Graça e Paz

terça-feira, 18 de agosto de 2015

John Wesley e a Doutrina da Perfeição Cristã

Antes de tudo, gostaria de salientar que é necessário, para uma melhor compreensão da perfeição cristã, no entendimento de John Wesley ler os sermões 40 (Perfeição Cristã), 41 (Os Pensamentos Errantes) e o livro Explicação Clara da Perfeição Cristã. Todos os e-books gratuitos estão no site da Metodista de Vila Isabel.

Sobre a doutrina, Wesley menciona o que não significa perfeição cristã. Não significa que se possa ficar isento de ignorância, ou seja, a pessoa perfeita não conhecerá os desígnios de Deus por completo. Isso não se dará. Não significa que conhecerá o Senhor perfeitamente e que saberá de detalhes quanto à Sua vinda e afins. Perfeição, conforme esta doutrina, não implica em impecabilidade, mas sim, como será mostrado, que o pecado voluntário não faz parte do nascido de novo que alcançou a perfeição.

O erro se faz presente na pessoa perfeita (por mais que pareça contraditório). Wesley cita que "conhecemos em parte" (1 Co 13:9), logo, podemos errar na outra parte que não conhecemos. Wesley assevera: "Mas, em coisas não essenciais à salvação, erram, e erram frequentemente" (Sermão 40, parte 1, ponto 4). Os que alcançaram a perfeição não possuem a interpretação correta de todas as passagens das Escrituras e não estão livres de fraquezas não morais como morosidade de entendimento, obtsusidade ou confusão de compreensão, incoerência de pensamento e afins (Sermão 40, parte 1, ponto 7). Muito menos há uma libertação das tentações.

Sobre o que é perfeição cristã, Wesley aborda que os justificados têm o seu velho homem crucificado, seu corpo do pecado destruídos (Rm 6:6) e estão mortos para o pecado (Rm 6:11). Wesley enfatiza que temos que levar em conta seriamente esses versos. Efésios 4:13, Lucas 6:40, Fp 3:15 abordam que somos perfeitos. Jesus, em Mateus 5:48, ordena que sejamos perfeitos como o Pai é perfeito.

Sobre Mateus 11:11: " Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele", Wesley entende que até João Batista, ou seja, até o surgimento da Graça, o menor cristão é maior que João Batista. Já, entre os judeus, João Batista foi o maior. Qualquer cristão que viva no período da Graça é maior que João Batista, o maior do período pré-Graça. 

Sobre Salomão ter escrito que não há homem que não peque (1 Re 8:46; 2 Cr 6:36), Wesley entende, como acima, que, no período da Lei, não havia homem que não pecasse, pois a Graça de Cristo não havia surgido na Terra. 

Sobre Paulo (no caso da discussão com Barnabé) e Pedro (no caso de sua dissimulação em Gálatas), não há indício escriturístico de que eles pecaram necessariamente. Eles pecaram, sem dúvida, mas não seguiram pecando, pois entrariam em contradição com João em 1 Jo 5:18. 

Wesley enfatiza que Cristo nos purifica de todo pecado, conforme 1 João 1:7. Logo, não há um pecado não purificado. Wesley enfatiza que "um cristão é perfeito ao ponto de não cometer pecado" (Sermão 40, parte 2, ponto 20).

Por fim, Wesley assevera que Jesus não teve e não tem pensamentos maus. Então, como Jesus mesmo disse que "todo que é perfeito é como seu Senhor" (Lc 6:40), 1. Somos perfeitos. 2. Somos como o Senhor, logo. 3. Não devemos ter pensamentos maus. 

Wesley, e todos os crentes na perfeição cristã, deleitam-se nesta doutrina porque nos estimula à santidade. Não há espaços para legalismos, pois Wesley e os wesleyanos seguem o princípio moral da santidade, e não o aspecto regimental de culturas.

Em Cristo,

Marlon Marques

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A Doutrina da Inteira Santificação na Igreja Antiga





Artigo escrito por Matt O'Reilly

Eu já ouvi muitas vezes que a ênfase que John Wesley fez sobre a inteira santificação (ou perfeição cristã), não foi somente o resultado de sua leitura das Escrituras (foi sim!), mas de sua leitura dos pais da Igreja primitiva também. Eu não tive oportunidade de pesquisar o que foi discorrido em detalhes, mas eu me lembro de que ontem, quando eu estava lendo a Carta de Policarpo aos Filipenses eu descobri uma frase que soou como se fosse um fragmento de um sermão de John Wesley. Aqui está o que o bispo de Esmirna do segundo século escreveu: "Pois se alguém estiver nesse grupo, ele cumpriu toda a justiça, pois quem tem amor está longe de todo o pecado" (III: 3, ênfase adicionada). O grupo de que ele fala são aqueles que têm fé e amor a Deus, Cristo, e ao próximo. E esse grupo, diz Policarpo, está longe de todo o pecado. Não a maioria, mas todo.

Há um sem número de passagens por Wesley em que foi possível encontrar temas similares; esta citação de Uma Explanação sobre a Perfeição Cristã resume muito bem: "A perfeição cristã é o amor a Deus e ao próximo, o que implica a libertação de todo pecado" (18). Há pelo menos três observações a serem feitas sobre a compararação entre Policarpo e Wesley.

Primeiro, e mais óbvio, talvez, é que tanto Policarpo e Wesley estão felizes por descrever a libertação do crente do pecado em termos de "todo o pecado". Ambos, é claro, obtêm isso de 1 João 1:7: "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado".

Em segundo lugar, ambos, Policarpo e Wesley, entendem o amor e o pecado como mutuamente excludentes. Um coração cheio de amor a Deus e ao próximo não pode, portanto, ser um um coração em pecado contra Deus ou ao próximo. Se estivermos amando e ativamente seguindo a Cristo, então, ao mesmo tempo, não pecamos contra Ele. Para ambos, o distanciamento dos homens do pecado deve começar com o amor a Deus. É por isso que a verdadeira santidade não é simplesmente uma questão de modificação do comportamento. Poderíamos presumivelmente atravessar os movimentos e fazer os tipos certos de coisas e ainda não termos um coração de amor a Deus e aos outros. O amor é ambos o fundamento e a fonte de santidade autêntica, o início e a causa. Santidade não é mera obediência; a vida de santidade deve surgir diante do amor.

Em terceiro lugar, para que não pensemos que o amor santo significa alguma coisa que fazemos, Policarpo e Wesley concordariam que o amor santo produz uma vida que honra a Deus. Nós já vimos que o amor para Policarpo, que está longe de todo o pecado, é também o amor que cumpre toda a justiça. Da mesma forma, Wesley insiste que, "o amor é o cumprimento da lei, a finalidade do mandamento." Não é somente o "primeiro e grande mandamento", mas todos os mandamentos em um (Explanação Clara, 6). Para nenhum desses homens [Policarpo e Wesley], o amor significa ilegalidade. Ao contrário, amor significa santidade. Aqueles que amam a Deus amará a lei de Deus e guardará os Seus mandamentos. Assim, a santidade não é principalmente sobre o que fazemos; é sobre quem nós amamos. Mas, se amamos a Deus, faremos o que lhe agrada. A santidade não consiste em obediência, mas a obediência sempre acompanha santidade.

Concluirei dizendo que enquanto a inteira santificação é muitas vezes tratada como característica de Wesley, isso deve ser explicado que não é o caso. Os temas centrais da doutrina da santificação de Wesley estavam presentes no início da igreja e Wesley viu sua ênfase na doutrina da perfeição cristã como uma recuperação da verdade bíblica ensinada pelos apóstolos e pelos pais da igreja. Esta breve comparação de seus pontos de vista com os de Policarpo, expressos em sua carta aos Filipenses, é parte, embora, certamente, não tudo, dos elementos de prova de que Wesley estava certo ao ver seu trabalho como estando em continuidade com a Igreja Antiga.
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O recente livro de Thomas A. Noble, Trindade Santa, Povo Santo - A teologia da perfeição cristã*  dedica um capítulo ao tema da perfeição cristã como ensinada pelos Padres gregos e latinos (Capítulo 3).

* Nota do tradutor [Marlon Marques]: O livro de Thomas A. Noble Trindade Santa: Povo Santo - A Teologia da Perfeição Cristã foi publicado pela editora Sal Cultural.

Fonte: http://www.mattoreilly.net/2013/07/entire-sanctification-in-early-church.html

sexta-feira, 5 de junho de 2015

John Wesley - "Sua experiência com o dinheiro"

John Wesley - "Sua experiência com o dinheiro"

John Wesley (1703-1791) é conhecido como um pregador que revolucionou a Inglaterra do século XVIII, foi instrumento de avivamento, e influenciou profundamente a igreja com seus ensinos sobre santificação.
Poucos talvez saibam que ele ganhou muito dinheiro com a venda de seus livros e panfletos, e que sua renda o classificava como um dos homens mais ricos da Inglaterra do seu tempo.
A seguir, alguns dos seus ensinamentos sobre dinheiro:
John Wesley viu o movimento de Metodismo que fundou crescer de dois irmãos para uma sociedade de quase um milhão de pessoas durante o período da sua vida. Porém, nos seus últimos anos, ele ficou triste e pessimista com relação ao movimento. Os seguidores não tinham mais fervor e amor pelo Senhor, o que se demonstrava de diversas maneiras, entre as quais sua indisposição de visitar e ajudar os pobres e necessitados.
Wesley temia que o Senhor não estivesse mais no meio deles, que o povo tivesse abandonado seu "primeiro amor", e que talvez seus labores de uma vida inteira fossem perdidos.
Wesley atribuiu esta frieza espiritual e afastamento de Deus principalmente ao crescimento de riquezas e possessões. Notou que o nível econômico médio dos metodistas havia melhorado mais de dez vezes em relação ao princípio do movimento. Parecia-lhe que quanto mais dinheiro tinham, menos amavam ao Senhor, menos disposição tinham, entre outras coisas, para auxiliar os necessitados.
Wesley pregava muito sobre o uso correto do dinheiro, e de como somos apenas despenseiros de Deus. O propósito de Deus em nos abençoar financeiramente é para podermos compartilhar com aqueles que não têm. Gastar em coisas supérfluas ou além do básico necessário é, por isso, roubar de Deus.
É difícil imaginar este grande pregador, que falava tanto sobre o amor, ficando irado ou expressando ódio para alguma coisa. Ele até ensinava que o amor de Deus pode encher de tal forma nosso coração que seremos capazes de amar perfeitamente a Deus e ao nosso próximo.
Mas havia uma palavra que Wesley realmente detestava. Era a palavra que as pessoas usavam para justificar gastos extravagantes ou um estilo de vida materialista. Diziam: "Mas tenho condições de comprar aquilo ou de viver assim". Para ele esta expressão "tenho condições" era vil, miserável, imbecil e diabólica, pois nada do que temos pode ser considerado nosso. Nenhum cristão verdadeiro jamais deveria usá-la.
Ele não só pregou, mas viveu este princípio na prática. Numa época em que uma pessoa podia viver tranquilamente com £30,00 (trinta libras) por ano, Wesley começou ganhando mais ou menos isto no início de sua carreira de professor da universidade.
Um dia, porém, notou uma empregada doméstica que não tinha agasalho suficiente no inverno, e que não tinha nada para lhe dar, pois já gastara todo seu dinheiro para si mesmo. Sentiu-se fortemente repreendido por Deus como mau despenseiro dos seus recursos. Daí em diante, reduziu ao máximo suas despesas para poder ter mais para distribuir.
Com o tempo, sua renda anual passou de £30,00 por ano a £90,00, depois a £120,00 e anos mais tarde chegou a £1400,00. Entretanto, nunca deixou de viver com os mesmos £30,00, e de dar embora todo o restante.
Segundo seu próprio testemunho, nunca teve mais que £100,00 no bolso ou nas suas reservas. Ensinou que quando a renda do cristão aumentasse, devia aumentar seu nível de ofertas, não seu nível de vida.
Quando morreu, deixou apenas algumas moedas nos bolsos e nas gavetas, e os livros que possuía. A grande maioria das £30.000,00 que ganhou durante sua vida (com panfletos e livros) foi doada a pobres e necessitados.
Wesley baseava sua prática em cinco pontos fundamentais:
1. Deus é a fonte de todos os recursos do cristão. Ninguém realmente ganha dinheiro por sua própria esperteza ou diligência. Pois Deus é fonte de toda energia e inteligência.
2. Os cristãos terão de prestar contas a Deus pela forma como usaram o dinheiro. Em qualquer momento, podemos ter de prestar contas a Deus. Por isto, nunca devemos desperdiçar o dinheiro agora, pensando em compensar futuramente.
3. Os cristãos são mordomos do dinheiro do Senhor. Somos apenas agentes dele para distribuí-lo de acordo com sua direção. Portanto, não temos condições de fazer algo contrário à sua vontade.
4. Deus concede dinheiro aos cristãos para que o repassem àqueles que têm necessidade. Usar este dinheiro para nós mesmos é roubar de Deus.
5. O cristão não tem mais direito de comprar algo supérfluo para si mesmo do que tem de jogar o dinheiro fora.
Com isto em mente, Wesley dava quatro conselhos quanto às prioridades de Deus para o uso da renda individual do cristão:
1. Suprir todo o necessário para si mesmo e a família (1 Tm 5.8).
2. "Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes" (1 Tm 6.8).
3. "Procurai as coisas honestas, perante todos os homens" (Rm 12.17), e "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma" (Rm 13.8).
Depois de cuidar das necessidades básicas, a próxima prioridade é pagar os credores, ou providenciar para que todos os negócios sejam feitos de forma honesta, sem incorrer em dívidas.
4. "Façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé" (Gl 6.10).
Depois de prover para família, credores, e negócios, Deus espera que todo o restante lhe seja devolvido através de doar aos necessitados.
Para ajudar a discernir em situações não muito claras se está tomando a direção certa diante de Deus, Wesley sugeria que o cristão fizesse a si mesmo as seguintes perguntas em relação a algum bem que quisesse adquirir:
1. Em gastar este dinheiro, estou agindo como se eu fosse dono dele, ou como despenseiro de Deus?
2. Que Escritura me orienta a gastar dinheiro desta forma?
3. Posso oferecer esta aquisição como oferta ao Senhor?
4. Deus haverá de me elogiar na ressurreição dos justos por este dispêndio?

Extraído da Revista Impacto (www.revistaimpacto.com.br), nº 25.

PERFEIÇÃO E CRESCIMENTO por C. W. Ruth

PERFEIÇÃO E CRESCIMENTO
por C. W. Ruth
A perfeição, mencionada nas Escrituras é possível a todo cristão; é a perfeição de um coração limpo de todo o pecado e cheio de amor puro, a perfeição do amor.
O termo perfeito refere-se a qualidade e não à quantidade. Temos encontrado alguns que rejeitam a perfeição cristã, alegando eles que, havendo perfeição, há impossibilidade de crescimento e desenvolvimento na graça. Defendem os tais que, sendo perfeitos, não podem ter necessidade nem oportunidade de crescimento. Mas não esqueçamos que a perfeição cristã se refere à qualidade e não à quantidade de amor no coração. Todos os cristãos têm amor; mas todos os cristãos não têm o amor perfeito, que lança fora o temor. O que a saúde perfeita é para o corpo, o amor perfeito é para a alma. Santidade quer dizer integridade espiritual, ou saúde da alma. O pecado é uma enfermidade, uma doença que é sempre uma condição anormal, porque uma criança que não goza perfeita saúde, não é razão para não continuar a crescer. A criança com saúde perfeita crescerá muito mais rápida e proporcionalmente do que a de saúde debilitada.
Devemos sempre nos lembrar que não estamos defendendo a perfeição de ação, mas sim o amor perfeito, que se relaciona principalmente com a espécie ou qualidade. Usando a linguagem do Rev. J. A. Wood, em, "Pureza e Maturidade", insistimos: "Pode-se dizer que uma coisa é perfeita quando possui as propriedades ou qualidades que são essenciais à sua natureza. O fruto do Espírito é perfeito, perfeito em qualidade, quando existe na alma com exclusão de cada princípio oposto, de cada temperamento contrário". Como já mencionamos, o crescimento na graça, quando o coração estiver limpo de todo o pecado e aperfeiçoado em amor, será mais rápido do que seria de outra maneira. Uma das características essenciais do crescimento é o conhecimento. Nunca amaremos uma pessoa, se dela não tivermos conhecimento. Na proporção em que o nosso conhecimento aumenta, temos maior base intelectual para a ação do amor. "Consequentemente, cada manifestação do caráter de Deus, cada nova demonstração dos Seus atributos, cada desenvolvimento adicional das Suas providências, oferecerá novas ocasiões para o amor. Crescer em santidade na proporção exata em que ela cresce em conhecimento é, portanto, o privilégio de uma pessoa aperfeiçoada em amor, e, consequentemente, de uma pessoa santificada"
(Upham)
Quando o coração é limpo de todo o pecado, não pode ser purificado mais; mas pode haver um crescimento contínuo de amor num coração purificado. Não pode haver nenhum crescimento para o amor perfeito, visto que o crescimento não muda a qualidade ou natureza de alguma coisa, mas pode haver um crescimento inextinguível e ilimitado na graça, quando o amor é perfeito no coração.
Extraído: O Arauto da Santidade - 15 de julho de 1973

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Graça Preveniente: Por Que Eu Sou um Metodista e Evangélico



Timothy Tennet
      Em primeiro lugar, eu sou um metodista porque acredito na graça preveniente. Para Wesley, a vida espiritual não tem esperança de um começo sem ação prévia de Deus em favor do pecador. A graça preveniente é um termo coletivo para todos os modos pelos quais a graça de Deus entra em nossa vida antes da conversão. A graça preveniente significa, literalmente, "a graça que vem antes" e capta bem o que a igreja primitiva chamou de evangelica preparatio , ou seja, a preparação para a boa notícia. Uma das maneiras em que a tradição Metodista Wesleyana por vezes é mal compreendida por pessoas de outras tradições é em relação a nossa doutrina do pecado. Pode vir como uma surpresa para alguns de nossos leitores reformados que a doutrina da depravação total (o famoso T no calvinista TULIP) é compartilhada por wesleyanos e metodistas tão ardentemente como por calvinistas. Metodistas, como nossos irmãos e irmãs reformadas, acreditam que a salvação é impossível sem um ato livre e antes de Deus em favor do pecador. Depravação total significa que estamos mortos em nossos pecados e, portanto, não podemos nos ajudar ou nos assistir a nós mesmos. O pecado não é meramente uma "bola de corrente" que impede o nosso progresso. Estamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2:5). Metodistas afirmam esta verdade. No entanto, metodistas levam muito a sério a tensão teológica que existe entre, por um lado, o ensino claro da Escritura que estamos mortos em nossos pecados e totalmente desprovido de qualquer capacidade de nos salvar (Ef 2:1, Col 1: 21, 2:13; Lc 15:24) e a chamada universal do Evangelho que nos obriga a "vir" (Mateus 11:28), "arrepender" (Atos 02:38), "acreditar" (Atos 16 : 31) e toda uma série de outros comandos. Todos que nos chamam a atos específicos de fé e obediência. Como as pessoas espiritualmente mortas não têm capacidade de resposta, é claro que Deus está concedendo a graça de inúmeras formas em nossas vidas antes de nossa regeneração ou conversão. A graça preveniente fornece a ligação entre a depravação humana e o chamado universal. A diferença importante entre metodistas e cristãos reformados não está no fato da depravação, mas sobre se qualquer ação prévia de Deus é limitada aos eleitos (Expiação Limitada - o L no TULIP) ou é universal. Apesar do enorme respeito que temos por João Calvino, metodistas não acreditam que a doutrina calvinista da expiação limitada se ajusta aos dados bíblicos tão bem como a doutrina da graça preveniente. Os metodistas acreditam que Deus universalmente agiu em nome da caída raça depravada de Adão. Nós acreditamos que Cristo, como o Segundo Adão, resgatou a raça humana com um ato de graça que lhes confere a capacidade de aceitar ou rejeitar a boa notícia do Evangelho, quando é proclamado. Wesleyanos acreditam que, se a doutrina da depravação humana não está ligada à ação de Deus na graça preveniente, ele cria um conflito teológico insustentável que, pelo menos potencialmente, faz com que Deus seja injusto ou o autor do mal, nem de que se encaixa com uma visão bíblica de Deus. Pois, se uma pessoa espiritualmente morta é incapaz de responder ao chamado de Deus, então, com que base é que ele ou ela responsabilizado pelo pecado? A graça preveniente demonstra como podemos ser totalmente depravado, mas dada a graça de responder e, se não responder, pode ser plenamente responsabilizados por nossa descrença.
      Para metodistas, a graça preveniente é a ponte entre a depravação humana e o livre exercício da vontade humana. A graça preveniente levanta a raça humana para fora da sua depravação e nos concede a capacidade de responder mais à graça de Deus. Jesus declarou que "ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (João 6:44). Metodistas entendem este texto como referindo-se a um desenho divino enraizado no Deus Uno e Trino, que precede a nossa justificação. É ato de favor imerecido de Deus. É a luz de Deus " que ilumina todo o homem" (João 1: 9), elevando-nos e dando a raça humana a capacidade de exercer a nossa vontade e responder à graça de Cristo. Thomas Oden coloca muito bem quando ele diz que "a vontade divina sempre 'vem antes' ou 'pré-vem' (lidera o caminho) à vontade humana, de modo que a vontade humana pode escolher livremente de acordo com a vontade divina. "1
      O pensamento wesleyano afirma que Deus tomou a iniciativa de criar uma capacidade universal para a raça humana receber sua graça. Muitos, é claro, ainda resistem à sua vontade e persistem em rebelião contra Deus. O pensamento wesleyano é, na verdade, uma posição intermediária entre uma visão pelagiana (que faz de cada pessoa um Adão e não admite nenhuma natureza pecaminosa ou escravidão devido a natureza de Adão) e da visão reformada (que afirma expiação limitada). O que wesleyanos dizem com livre-arbítrio é realmente "vontade livre", ou seja, um testamento em cativeiro que foi libertado por um ato livre da graça de Deus. Naturalmente, não é livre em todos os aspectos possíveis, uma vez que são todos influenciados pelos efeitos da Queda de muitas maneiras, mas agora temos uma capacidade de restauração, o que permitiu nosso coração, mente e vontade de responder à graça de Deus. Eu amo o fato de que metodistas acreditam que mesmo que você vá até os confins da terra com o evangelho, você sempre vai achar que Deus precede você e, com efeito, "supera você lá!" Talvez a graça preveniente é resumida melhor pela famosa interrupção de um missionário que estava lecionando na África sobre como os missionários levaram o Evangelho à África. O crente africano interrompeu e disse: "Os missionários não levam o Evangelho a África. Deus trouxe os missionários para a África." Este comentário perspicaz muda a ênfase para a agência anterior de Deus e na grande missio Dei (missão de Deus), pela qual Deus é sempre o primeiro ator no grande drama da redenção. Wesleyanos abraçam plenamente a importância da decisão humana e o exercício da vontade. No entanto, isso não é possível sem uma ação prévia de Deus.
. 1 Thomas Oden, Teologia Sistemática vol, 2, A Palavra da Vida (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2001), 189. Salvo disposição em contrário, este blog usa a Nova Versão Internacional.
Tradução: Marlon Marques
Fonte: http://timothytennent.com/2011/07/05/prevenient-grace-why-i-am-a-methodist-and-an-evangelical-part-2/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Um Retorno ao Metodismo Primitivo

        O metodismo iniciou, diferente do que alguns pensam, não no Clube Santo, onde estavam reunidos John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield, mas sim depois da conversão súbita e plena na rua Aldersgate de John Wesley entre os morávios. Isso é corroborado pelo estudioso metodista Gonzalo Baéz Camargo. Neste período, Wesley, o principal líder metodista, organizou as sociedades metodistas para cumprirem a missão de Cristo, que é evangelizar, pregando libertação não só espiritual, mas também social. Isso, como se sabe na história da Igreja, foi realizado por Wesley e outros metodistas, não só de seu tempo, como em tempos posteriores. Tudo isso, claro, pela Graça de Deus.
        A questão é que, décadas depois da morte de Wesley, muitos metodistas enfatizaram mais o aspecto social de Wesley. É bem sabido que Wesley focava nas obras de misericórdia, que tinham a função de vestir os nus, alimentar os pobres, visitar os enfermos, pregar melhores condições de trabalho e afins. Esqueceram-se, porém, alguns metodistas não só do século XIX, mas também dos séculos XX e XXI, que Wesley não fazia somente isso, mas também anunciava que essas pessoas estavam mortas em seus delitos e pecados. A salvação espiritual foi e é relegada à condição de mero simbolismo. É preciso corrigir isso em algumas igrejas metodistas.
        Por outro lado, temos igrejas metodistas que estão em um processo de "neopentecostalismo" grande. Não é nem mais possível asseverar que estão seguindo apenas a parte da pregação da salvação espiritual enfatizada por Wesley. Esses metodistas estão não só saindo do metodismo original, mas estão saindo do cristianismo autêntico. Pregar nos cultos campanhas de vitória, barganhas com Deus, autoajuda, pregações voltadas para uma vida sem dores e afins, são claros indícios de um metodismo desviado. É preciso que esse metodismo seja renovado à luz do metodismo primitivo de Wesley, Fletcher e outros pais do metodismo. Do contrário, que usem outro nome que não seja "Igreja Metodista".
        A igreja metodista que segue o padrão do metodismo primitivo e que, de acordo com este, é o entendimento mais adequado com as Escrituras, é a igreja que apregoa o Evangelho de salvação espiritual e sua preocupação em viver o Reino, profetizando contra toda injustiça social, econômica e religiosa (contra charlatões, por exemplo). A igreja metodista fiel aos princípios do metodismo primitivo não deixa de enfatizar que, se as pessoas morrerem em seus pecados, perecerão eternamente. Pecados são pecados mesmos, sejam espirituais ou sociais. Na verdade, tudo é espiritual, pois se você peca no social, é um indício de que você está mal espiritualmente. 
     A você que pensa que as igrejas metodistas são liberais teologicamente ou são igrejas de autoajuda, conheça o metodismo primitivo de Wesley, Fletcher, Asbury e outros pais metodistas e saiba que, à luz da Bíblia, ela é uma igreja neotestamentária de fato. Desvios dos princípios primitivos de uma igreja acontecem em todas, sejam batistas, presbiterianas, anglicanas, luteranas e até com pentecostais. O que se deve fazer é sempre apontar os desvios e seguir os parâmetros bíblicos.

        Graça e Paz!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O que Significa Ser Wesleyano

O que Significa Ser Wesleyano

Steve Harper

A totalidade do que significa ser Wesleyano está além do escopo deste artigo, mas selecionei um número significativo de identificadores.

Os Wesleyanos não são separatistas

Queremos ter comunhão com todos os outros cristãos. Nós não somos separatistas ou sectários. A primeira publicação de Wesley sobre o início do movimento metodista foi intitulada, “O Caráter de um Metodista”; nela ele deixou claro que metodistas não tinham o desejo de ser distintos de outros crentes. Isto ainda é verdade. Afirmamos as doutrinas básicas do cristianismo. Confessamos os credos históricos. Nos unimos aos demais cristãos em ações ministeriais e missionárias sempre que possível.

Os Wesleyanos veem a teologia como um chamado à salvação

Mais do que meros tópicos ou doutrinas, teologia é a história da graça de Deus que atua constantemente e de modo preveniente promovendo conversão, santificação, e, por fim, a glorificação. Teologia tem a ver também com aquela que deve ser a nossa adequada resposta à graça, a saber, a santidade do coração e da vida, que se dá através da prática disciplinada dos meios da graça. Os Wesleyanos compreendem o cristianismo mais como uma vida a ser vivida do que um conjunto de crenças a ser professado.

Os Wesleyanos acreditam que todas as pessoas podem ser salvas

Nós não acreditamos que Deus predestina algumas pessoas para irem para o céu e outras para irem para o inferno. Tomamos Jo 3.16 literalmente, que ensina que Deus ama o mundo inteiro e está disposto a salvar “quem” crê em Jesus. Deus não quer que ninguém pereça; Ele não tomou qualquer decisão que possa excluir pessoas da possibilidade de serem salvas. Jesus morreu por todos. Ninguém precisa deixar de desfrutar a vida cristã abundante na Terra e a eternidade no céu.

Os Wesleyanos acreditam que podemos estar seguros de nossa salvação

Acreditamos que podemos estar seguros de nossa salvação. Tal segurança não está baseada numa presunção sobre o futuro, mas, sim, na presente e plena confiança que temos em Deus. Tal confiança é também a fonte de um dos frutos do Espírito que é a alegria. Wesley estava convencido de que a verdadeira santidade seria acompanhada por uma profunda felicidade. Vida cristã é vida “abençoada”.

Os Wesleyanos acreditam que as pessoas podem ser salvas “ao extremo”

John Wesley denominou isto de “plena salvação”. Perfeição cristã é a nossa marca, uma salvação em que não somos apenas salvos do pecado, mas também salvos para uma nova vida de justiça. Podemos ter uma plena santificação como fruto e resposta à graça de Deus em que tanto a amplitude como também profundidade das nossas vidas são consagradas a Deus. Esta experiência pode ser iniciada por um momento de entrega, e, então, seguida por uma profunda devoção e dedicação de nossa vida restante ao Senhor. Limpeza e consagração são descritas por Wesley em termos de santidade de coração e de vida.

Wesleyanos combinam fé e ação

Nós combinamos crenças em vez de separá-las, por exemplo: fé e obras, pessoal e social, coração e cabeça, piedade e misericórdia, Cristo e cultura. Acreditamos que o montante é superior à totalidade de uma das partes.

Os Wesleyanos contribuem para o cumprimento da Grande Comissão

Cremos que o mundo é nossa paróquia e que o Senhor que nos enviou é também nosso companheiro de jornada. Temos vontade de comunicar o evangelho de maneira que permitam que todas as raças e culturas possam responder positivamente a Deus. Oferecemos Cristo no evangelismo que resulta no novo nascimento, e no estímulo que resulta em vida transformada. Reconhecemos que nossa missão engloba a todos os homens e ao homem como um todo, corpo, alma e espírito.

Os Wesleyanos possuem um conceito elevado da igreja

Nós rejeitamos qualquer ideia de independência cristã; procuramos, em vez disto, estarmos inseridos na comunidade cristã que nos une com aquela grande nuvem de testemunhas que já estão no céu e nos irmanamos também na terra com todos aqueles que estão comprometidos com o cumprimento da Grande Comissão. Como membros do Corpo de Cristo, buscamos ser fiéis à Igreja e à sua missão e nos reunimos constantemente para adoração, oração, estudo da Palavra e celebração dos sacramentos.

Os Wesleyanos capacitam todo o povo de Deus para o cumprimento da Missão

O metodismo primitivo formou mais líderes leigos que líderes do clero. Muitos destes líderes eram mulheres. A nossa herança nos ensina a capacitar todas as pessoas para o exercício de seus dons e talentos com vistas à edificação da igreja e cumprimento de nossa missão no Mundo. Nós nos opomos veementemente a todos os conceitos de fé ou eclesiologia que criam uma elite profissional que reserva a si o direito exclusivo de ministrar o Evangelho em detrimento do restante do povo de Deus.

The Herald Asbury
Steve Harper é Vice Presidente e professor de formação espiritual no Campus do Seminário Asbury em Orlando, FL.

Tradução: Ildo Mello

Fonte: arminianismo.com