segunda-feira, 20 de julho de 2015

A Doutrina da Inteira Santificação na Igreja Antiga





Artigo escrito por Matt O'Reilly

Eu já ouvi muitas vezes que a ênfase que John Wesley fez sobre a inteira santificação (ou perfeição cristã), não foi somente o resultado de sua leitura das Escrituras (foi sim!), mas de sua leitura dos pais da Igreja primitiva também. Eu não tive oportunidade de pesquisar o que foi discorrido em detalhes, mas eu me lembro de que ontem, quando eu estava lendo a Carta de Policarpo aos Filipenses eu descobri uma frase que soou como se fosse um fragmento de um sermão de John Wesley. Aqui está o que o bispo de Esmirna do segundo século escreveu: "Pois se alguém estiver nesse grupo, ele cumpriu toda a justiça, pois quem tem amor está longe de todo o pecado" (III: 3, ênfase adicionada). O grupo de que ele fala são aqueles que têm fé e amor a Deus, Cristo, e ao próximo. E esse grupo, diz Policarpo, está longe de todo o pecado. Não a maioria, mas todo.

Há um sem número de passagens por Wesley em que foi possível encontrar temas similares; esta citação de Uma Explanação sobre a Perfeição Cristã resume muito bem: "A perfeição cristã é o amor a Deus e ao próximo, o que implica a libertação de todo pecado" (18). Há pelo menos três observações a serem feitas sobre a compararação entre Policarpo e Wesley.

Primeiro, e mais óbvio, talvez, é que tanto Policarpo e Wesley estão felizes por descrever a libertação do crente do pecado em termos de "todo o pecado". Ambos, é claro, obtêm isso de 1 João 1:7: "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado".

Em segundo lugar, ambos, Policarpo e Wesley, entendem o amor e o pecado como mutuamente excludentes. Um coração cheio de amor a Deus e ao próximo não pode, portanto, ser um um coração em pecado contra Deus ou ao próximo. Se estivermos amando e ativamente seguindo a Cristo, então, ao mesmo tempo, não pecamos contra Ele. Para ambos, o distanciamento dos homens do pecado deve começar com o amor a Deus. É por isso que a verdadeira santidade não é simplesmente uma questão de modificação do comportamento. Poderíamos presumivelmente atravessar os movimentos e fazer os tipos certos de coisas e ainda não termos um coração de amor a Deus e aos outros. O amor é ambos o fundamento e a fonte de santidade autêntica, o início e a causa. Santidade não é mera obediência; a vida de santidade deve surgir diante do amor.

Em terceiro lugar, para que não pensemos que o amor santo significa alguma coisa que fazemos, Policarpo e Wesley concordariam que o amor santo produz uma vida que honra a Deus. Nós já vimos que o amor para Policarpo, que está longe de todo o pecado, é também o amor que cumpre toda a justiça. Da mesma forma, Wesley insiste que, "o amor é o cumprimento da lei, a finalidade do mandamento." Não é somente o "primeiro e grande mandamento", mas todos os mandamentos em um (Explanação Clara, 6). Para nenhum desses homens [Policarpo e Wesley], o amor significa ilegalidade. Ao contrário, amor significa santidade. Aqueles que amam a Deus amará a lei de Deus e guardará os Seus mandamentos. Assim, a santidade não é principalmente sobre o que fazemos; é sobre quem nós amamos. Mas, se amamos a Deus, faremos o que lhe agrada. A santidade não consiste em obediência, mas a obediência sempre acompanha santidade.

Concluirei dizendo que enquanto a inteira santificação é muitas vezes tratada como característica de Wesley, isso deve ser explicado que não é o caso. Os temas centrais da doutrina da santificação de Wesley estavam presentes no início da igreja e Wesley viu sua ênfase na doutrina da perfeição cristã como uma recuperação da verdade bíblica ensinada pelos apóstolos e pelos pais da igreja. Esta breve comparação de seus pontos de vista com os de Policarpo, expressos em sua carta aos Filipenses, é parte, embora, certamente, não tudo, dos elementos de prova de que Wesley estava certo ao ver seu trabalho como estando em continuidade com a Igreja Antiga.
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O recente livro de Thomas A. Noble, Trindade Santa, Povo Santo - A teologia da perfeição cristã*  dedica um capítulo ao tema da perfeição cristã como ensinada pelos Padres gregos e latinos (Capítulo 3).

* Nota do tradutor [Marlon Marques]: O livro de Thomas A. Noble Trindade Santa: Povo Santo - A Teologia da Perfeição Cristã foi publicado pela editora Sal Cultural.

Fonte: http://www.mattoreilly.net/2013/07/entire-sanctification-in-early-church.html

3 comentários:

  1. Texto muito bacana.
    Gosto desta característica de Wesley de dialogar constantemente com a teologia antiga.
    Não é a toa que tenho amigos ortodoxos que admiram muito Wesley.

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    1. Que bom saber que há ortodoxos que gostam de Wesley, Carlos. Bom mesmo!

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  2. Amém! Wesley soube dar o devido valor a tradição.

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